Há 111 anos: Fábrica de Cerâmica de Figueiró dos Vinhos

Outubro 7th, 2009

doc_1898_assinat_fabrica_1_jpg«Primeira sessão preparatória
em 18 de Agosto de 1898.

Anno de mil oitocentos noventa e oito aos dezoito dias do mêz de Agosto do dito anno n’esta villa de Figueiró dos Vinhos e em uma das sallas da Sociedade Recreativa Figueiroense onde compareceram os Excellentissimos senhores: Dr. Manoel Carlos Pereira Baetta e Vasconcellos; Diogo Pereira Baetta e Vasconcellos; José Simões d’Almeida Júnior; José Vital Branco Malhoa; Manoel Henriques Pinto; Manoel Quaresma D’Oliveira; Luiz Ernesto Reynoad e António d’Azevedo Lopes Serra se constituíram em sessão preparatória, a fim de deliberarem sobre a maneira de poderem levar a effeito o estabelecimento d’uma empresa industrial, de cerâmica n’esta villa, (…) deliberaram por unanimidade dar principio aos trabalhos preliminares para a instalação da fábrica. Foi resolvido e approvado o seguinte: Que a Empresa se denominasse = Fábrica de cerâmica de Figueiró dos Vinhos; Que ficasse encarregado do estudo e redacção da escriptura da empresa o sócio Dr. Manoel Carlos Pereira Baetta e Vasconcellos; Que o sócio Luis Ernesto Reynoad desse preinicio aos trabalhos, na qualidade de Director Technico da Empresa. Sendo presente por este sócio o orçamento para as primeiras despesas de installação no valor de um conto e trezentos mil réis (…). Calcolando-se em trezentos e vinte e cinco mil reis as primeiras despesas a fazer, deliberando que cada sócio entrasse com partes eguaes na relação de vinte e cinco por cento sobre aquella importância (…), não entrando o sócio António Serra com a sua parte em dinheiro para lhe ser descontado na importância do terreno que este senhor vende à Empresa para a construção da fábrica a cincoenta réis o metro quadrado (…). Em seguida procedeu-se à elleição dos membros que hão de formar a Direcção Administrativa da empresa, sendo elleitos por aclamação. Para presidente o sócio Dr. Manoel Carlos Pereira Baetta e Vasconcellos; para vice presidente o sócio Diogo Pereira Baetta e Vasconcellos; para secretário o sócio António d’Azevedo Lopes Serra; para thezoureiro o sócio Manuel Quaresma D’Oliveira; para Director technico o sócio Luiz Ernesto Reynoad (…).»
Esta é parte da acta que foi lavrada há 111 anos, em 18 de Agosto de 1898, numa sala do Clube Figueiroense e que comprova a fundação de uma sociedade, que viria a dar existência na vila de Figueiró dos Vinhos a uma fábrica de cerâmica no final do século XIX, fundada por um grupo de homens onde se incluíam os Pintores José Malhoa e Henrique Pinto; o Escultor Simões d’Almeida (Tio); o Padre Diogo de Vasconcelos e o irmão deste, Dr. Manuel de Vasconcelos (que viria a ser Presidente da Câmara); Manuel Quaresma D’Oliveira (empresário figueiroense); o Arquitecto Luis Ernesto Reynaud (arquitecto da ampliação do «Casulo» e da reconstrução/remodelação que a Igreja Matriz beneficiava na altura) e o farmacêutico da terra António Azevedo Lopes Serra (Farmácia Serra).
Cerca de um mês depois da sociedade ter sido fundada, uma outra acta era lavrada a 29 de Setembro, em que se deliberava «que se mandasse ao sócio Manoel Henriques Pinto amostras de todos os barros para elle obter na olaria de Thomar mais provas» (na época este Pintor dava aulas em Tomar), isto porque, «as informações sobre o barro, é que não serve para louça de boccal estreito por ser fraco e não se auguentar».
Resta apenas acrescentar que a fábrica teve de se contentar em produzir telhas e tijolos, uma vez que a matéria-prima, como de facto se veio a apurar, não era apropriada para modelações artísticas e produções mais subtis. Contudo, não deixa de ser curioso o enlevo da iniciativa, cuja acção era levada a efeito por um punhado de homens, movidos pela iniciativa empresarial intimamente ligada às potencialidades artísticas de alguns deles, nomeadamente, José Malhoa, Henrique Pinto e Simões D’Almeida.
Foi pena que a empresa não tivesse vingado, e nem quero imaginar, caso ainda hoje perdurasse, a «escola» de potencialidades artísticas e técnicas que a mesma teria motivado, criado e representado para a região, com o seu epicentro em Figueiró dos Vinhos.
O livro de actas, a que tive acesso, está conservado em boas mãos e só espera que o Museu de Arte Naturalista seja concluído, para se entregar à sua guarda, para que todos o possamos apreciar condigna e devidamente.
Coincidência ou não (acredito que não) este é o grupo que está retratado na fotografia que aqui publiquei, sobre o titulo “Uma Foto histórica”. Ali estão eles, os oito protagonistas desta singular iniciativa empresarial.

2 Respostas a “Há 111 anos: Fábrica de Cerâmica de Figueiró dos Vinhos”

  1. Manuel Santos Troca diz:

    Vou sempre acompanhando estas publicações sobre a história de Figueiró. Lamento não ser mais assíduo com a correspondência – comentários. Atenção ao meu novo mail a que fui obrigado por motivos de mudança de operadora. Durante algumas semanas o antigo ainda vai funcionando mas apenas para recepção. Felicidades e vão dando notícias – para além da História.
    Manuel

  2. Teresa diz:

    Mais um contributo importante para a história da nossa querida terra. Parabéns!

Deixe o seu comentário