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Fábrica de Pão-de-Ló de Santo António dos Milagres

06 Setembro 2009

pao-de-loEm 1893, António Henriques Pereira Baeta e Vasconcelos, fundaria em Figueiró dos Vinhos a primeira fábrica de doçaria, cuja estrela seria o seu (nosso) famoso pão-de-ló, “à custa de muito trabalho e insonnias, depois de várias lucubrações sobre processos culinários” e tal como carta que escreveu em 1904 a José Malhoa, onde convidava o Artista para padrinho da sua bela criação gastronómica. Em 1905, António de Vasconcelos passa a designar o seu pão-de-ló como produto da “Fábrica de Pão-de-Ló de Santo António dos Milagres”.
António de Vasconcelos era irmão do não menos famoso Padre Diogo de Vasconcelos (o do quadro de Malhoa “Viático ao termo”) e de Manuel de Vasconcelos, que foi Presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos.
Um homem extraordinário, dinâmico e que participava activamente na vida publica e social de Figueiró dos Vinhos, chegando a ser proprietário e director do Jornal “O Figueiroense”, pelo menos entre 1907 e 1910, cuja composição e impressão era feita na “typographia de António de Vasconcelos” com sede administrativa na Rua da Água. Ao que consta, possuía igualmente conhecimentos fármacos e alquímicos, ao ponto de ter inventado uma pomada para queimaduras com bastante sucesso na época.
Por ser solteiro e não possuir descendência directa, cultivava uma faceta de filantropo e de protector de muitas crianças necessitadas da comunidade Figueiroense. Esse facto colocar-lhe-ia no caminho da sua vida uma criança – Maria do Céu Quaresma Lopes Bruno – que seria a futura “herdeira” da sua obra após a sua morte (ocorrida em 9 de Junho de 1937), e que viria a casar com Ângelo David e Silva. Este, adquiriria por compra às herdeiras de A. Vasconcelos “o prédio urbano de casas altas e fábrica com respectivos haveres e pertenças”, assegurando o fabrico do Pão-de-Ló de Santo António dos Milagres até inícios da década de 70. Ângelo David e Silva viria a falecer em 1980.
No curriculum da Fábrica de Santo dos Milagres é de realçar um diploma de 1916, assinado por Teófilo Braga, e que atesta uma medalha de ouro que lhe foi atribuída pela Junta Geral do Distrito de Leiria, na sequência da exposição industrial e agrícola desse ano.
Verdadeiro símbolo patrimonial do nosso concelho, o pão-de-ló de Figueiró dos Vinhos é uma imagem de marca que perdura nos corredores do tempo e na memória colectiva dos figueiroenses, que o identificam como um dos seus ex-libris e que o utilizam, naturalmente, como um dos seus cartões de visita, tendo-o como pendor da nossa identidade colectiva e sobretudo como preito da nossa maneira de bem receber, honrando a memória do homem que o criou e que o inscreveu na história e na memória de gerações de Figueiroenses.

(fontes: arquivo pessoal do autor e Jornal “Expresso do Centro”, nº 31, caderno – doçaria regional, pp. I a IV, Janeiro de 2000).