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Ser eterno (Geração sonhadora)

16 Março 2008

foto_ge_O que foi que ficou de todas as escolas por onde passámos? Que frases ficaram inscritas no quadro, onde o giz serpenteava?
Na escola onde andei, ainda lá está a velha árvore onde inscrevi o meu nome (“Tó-Zé – 3º A”), com o canivete da minha inocência. Foi há 33 anos!!
Tinha um grupo, rapazes e raparigas fantásticos. Alguns já não os vejo há décadas, outros já “partiram”, mas recordo-me de todos eles.
Quem não se recorda desse tempo, dos 15 anos, quando trocávamos sonhos uns com os outros e sempre à procura de discípulos para os nossos poemas, das histórias que inventávamos e sempre com o sol por companheiro, que repartíamos entre todos, cheio de cores mágicas, cores com que inventávamos os dias?! Com os olhos escrevíamos o sol, enquanto cantávamos as canções dos nossos ídolos cabeludos, de mochila às costas com o gravador a pilhas sempre aos “berros” e ligado no máximo. “Onde está a malta?”, era a pergunta do costume. Transformávamos as quatro estações do ano numa só: a Primavera eterna, que era só nossa e que bebíamos no jardim e pelas ruas da vila por entre mãos em mil triângulos de luz, na aventura de sermos alguém, cheios de sonhos onde caíam todas as cores dos pores-do-sol doirados. Clubes, esquemas, mundo de surpresas, de dias e dias, como se fosse sempre um longo Maio eterno. Agora aos 46 anos, tenho vários oásis de memórias, que revejo muitas vezes de alma apertada e que são como que peregrinos atravessando e enchendo a minha vida, cheia dessas vozes longínquas, desses dias em que pensava ser eterno. E se acaso fechar os olhos em finais de tardes como esta, vendo a alegria desta maravilhosa geração sonhadora, torno o meu universo instável, que acorda o adolescente que ainda há em mim, regressado desse mundo onde viviam as alegorias doces, tempo onde se fabricavam futuros, tempo inventado, com a alegria sempre aos ombros, dos dias cheios de segredos e que rompiam pelas manhãs fora. Coleccionávamos sonhos que colhíamos uns com os outros. E neste final de tarde, encho-me de nostalgia, que me relembra os dias da minha adolescência, sempre insuficientemente vividos. Tenho saudades dessas horas instáveis, cheias de mistérios mas que guardo preciosamente em baús cheios de recordações doces. E é assim, que nesta tarde crepuscular quase primaveril, me revejo a mim trinta anos atrás, numa intensidade que quebra as fronteiras conhecidas. E sinto nesta brisa que acompanha o fim de mais um dia, alevantando folhas e memórias, vindas desta alegria inspiradora e tranquilizadora, a serenidade necessária que me relembra, que seja qual for a idade que tenhamos, é sempre possível inventar palavras novas, sonhos cheios de visões, porque somos personagens incríveis, de alma ilimitada. E ao vê-los abraçados em grupos a tirar fotografias, a autografarem as camisolas uns aos outros, aos saltos entoando “gritos de guerra”, com a alegria contagiosa que invade tudo e todos, numa dimensão que lhes dá a aura de deuses do Olimpo, tomo consciência, que afinal ainda temos TODOS capacidade para nos rirmos diante do espelho, enquanto acreditarmos que a vida ainda se revela, como o outro lado do mesmo riso, trocando as voltas às forças do destino.
Existem sonhos! Temos de aprendê-los, de manifestá-los, penetrar neles e conhecê-los! Acreditar é a palavra mágica! Se não acreditarmos nada valerá a pena e vale mais desistirmos! Mas os sonhos nunca desistem, só aqueles que se afastam deles. E se os sonhos que tínhamos tiverem adormecido, basta acordá-los. E para os acordar bastam palavras simples, dessas que os transportam para todo o lado, ou então uma praça como esta e onde eu estive, cheia de jovens sonhadores, a viverem a eternidade! E a eternidade vive-se na felicidade, nem que ela dure apenas um final de tarde, no meio dos nossos sonhos, aos “pulos” com estes jovens poderosamente felizes e eternos.

“Era um tempo,
e que tempo era…
um tempo de inocência,
um tempo de confidencias.
Há muito tempo, deve ter sido…
Tenho uma fotografia,
Guarda as tuas recordações:
– É tudo o que ficou de ti!”

(‘Bookends’ © Simon & Garfunkel)