Participações Portuguesas no Estrangeiro - Paris-Roubaix

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Contents

Historial das participações de ciclistas portugueses no Paris-Roubaix

Início em 1896

Década de 1950

1957

Abandonos: Ribeiro da Silva (Rochet-Dunlop) e Alves Barbosa (Rochet-Dunlop)

Década de 1980

1983

27º Acácio da Silva (Eorotex-Mavic)
  • Melhor classificação portuguesa até à data

Década de 2000

2005

Abandono: Sérgio Paulinho (Liberty Seguros)

2009

58º Rui Costa (Caisse d'Epargne)

Década de 2010

2010

Abandono: Rui Costa (Caisse d'Epargne)

2011

Abandono: Nelson Oliveira (RadioShack)

2015

61º Nelson Oliveira (Lampre-Merida)

2016

Abandonos: Nelson Oliveira (Movistar) e Mário Costa (Lampre-Merida)

2017

Abandonos: Nelson Oliveira (Movistar) e Nuno Bico (Movistar)

2018

Abandonos: Nelson Oliveira (Movistar) e Nuno Bico (Movistar)

Década de 2020

2021

Abandonos: André Carvalho (Cofidis) e Rui Oliveira (UAE Team Emirates)

2023

52. Rui Oliveira (UAE Team Emirates)
94. André Carvalho (Cofidis)

2024

87. António Morgado (UAE Team Emirates)




Apontamentos sobre o Paris-Roubaix

Características

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No seu historial, esta clássica francesa tem consagrado diversos heróis das estradas, mercê das condições adversas que têm caracterizado muitas das edições da prova.

A principal característica da corrida centra-se nos muitos troços em pavé que os ciclistas têm que atravessar ao longo dos 259 quilómetros do traçado, os quais, para lá da natural dificuldade que este tipo de piso acarreta, se tornam extremamente perigosos para os ciclistas com o aparecimento da chuva. Exemplo disso foi a edição de 2001, corrida autenticamente debaixo de um temporal, na qual, no seu término, se tornou quase impossível distinguir os corredores pelos dorsais ou até mesmo pelas cores das suas equipas, tal a quantidade de lama que estes tiveram de "carregar" durante a maior parte da prova. O CyclingNews descreveu a chegada dos corredores como "criaturas de outro planeta surgidas do pavé", tal a imagem de sofrimento e resistência í  intempérie que os corredores ostentavam nos seus rostos e nas suas roupas, bem visível nesta imagem da AFP.Um dos heróis mais recentes do Paris-Roubaix foi sem dúvida Johan Museew, vencedor em 1996, 2000 e 2002. Mas, também ele foi uma das "vítimas" desta clássica, com uma queda na edição de 1999, a qual lhe provocou uma fractura no joelho que quase acabava com a sua carreira. Incrivelmente, Museew recuperaria e venceria mesmo a edição seguinte da prova, conquistando assim um lugar na galeria dos imortais desta clássica francesa. Uma das imagens que perdurará é precisamente a da sua chegada vitoriosa em 2000, na qual apontava para o seu joelho enquanto cortava a linha de meta.

o Paris-Roubaix tem normalmente 27 troços em pavé, os quais totalizam mais de 50 kms, nos quais se concentram anualmente milhares de pessoas, ávidas do espectáculo sempre prometido.

Quanto a participações nacionais, é quase inexistente, registando-se como melhor um 27.º lugar de Acácio da Silva em 1983, então ao serviço da Eorotex-Mavic.

História

O Paris-Roubaix foi idealizado em 1896 por dois proprietários de moinhos de Roubaix, Theo Vienne e Maurice Perez, com o intuito de criarem uma prova que terminasse no velódromo de Roubaix, numa era em que as corridas de estrada se tinham tornado bastante populares na zona. Eram o entretenimento por excelência dos Domingos, para os trabalhadores das fábricas de texteis da área. Ambos sugeriram então uma corrida entre Paris e Roubaix a Paul Rousseau, director do jornal Le Vélo Sportif, ideia que este aceitou, dando como prémio ao vencedor uma bicicleta Breyer! A primeira edição do Paris-Roubaix foi ganha por um alemão, Josef Fischer. O orgulho francês foi restabelecido no ano seguinte com a vitória de Maurice Garin, proprietário da loja de bicicletas de Roubaix, que seria em 1903 o primeiro vencedor da Volta à França. Garin recuperou de uma desvantagem de 25 minutos em relação a Mathieu Cordang e os dois entraram juntos no velódromo de Roubaix. Cordang deslizou e caíu na trilha de cimento e Garin tomou a dianteira nos dois quilómetros finais. Ainda assim, com fair-play, Garin afirmou: "eu tenho que admitir que Cordang era o mais forte."

Pretendido originalmente como uma espécie de warm-up para a 'maratona' de Bordéus-Paris (mais de 300 kms !), o Paris-Roubaix era um evento diferente nos seus primeiros anos. Em 1896 e em 1897 os ciclistas seguiam outras bicicletas (tandems e triplets). Em 1898 e de 1900 a 1909, seguiam os motociclos. Em 1910 retomou-se o modelo original, de cada um correr sem motos, tandems ou triplets, abandonando assim o estilo do Bordéus-Paris..

Em 1901, quando o Paris-Roubaix se associou ao l'Auto-Vélo, o Vélo Sportif (organizador inicial), tentou organizar a sua própria prova de Paris a Roubaix, terminando no parque de Barbieux. Anos mais tarde, a idéia foi abandonada quando o governo francês tomou uma posição e proíbiu todo os outros eventos de se chamarem "Paris-Roubaix" e que o mesmo deveria terminar sempre no velódromo, e não noutro local .

Houve assim duas versões do Paris-Roubaix entre 1901 e 1904. Inclusivé, no dia 15 de Maio, os organizadores promoveram um segundo 'Paris-Roubaix' inteiramente disputado no velódromo de Roubaix (!). A corrida de 265km (795 voltas ao circuito de 333m!) era animada com sprints intermédios nas distâncias equivalentes aos pontos de controle da verdadeira Paris-Roubaix.

A frase "o inferno do norte" foi inventada por um jornalista parisiense após a primeira guerra mundial, quando o Norte de França foi devastado pela guerra de trincheiras que matou nove milhões, entre eles muitas das estrelas do ciclismo pré-guerra. A maioria das estradas ficou intransitável, de tal modo que, os organizadores da edição de 1919, mudaram parte da rota do Paris-Roubaix, não obstante grande parte do trajecto ser percorrido através do país apejado de crateras de bombas e de zonas de trincheiras ainda bem visíveis, manchadas de sangue. Era verdadeiramente "o inferno do norte". Hoje em dia, o epíteto manteve-se, adequando-se perfeitamente ao espírito heróico dos ciclistas e à dureza do percurso.

Apesar de francesa, o Paris-Roubaix é a corrida que cada ciclista belga sonha um dia ganhar. Talvez por isso, a vitória foi já alcançada 50 vezes por corredores daquela nacionalidade, desde que a mesma se iniciou.

O domínio belga começou em 1922 com a vitória de Albert Dejonghe. Dejonghe, com uma equipa raçuda e composta exclusivamente por belgas, fez-se í  prova com ganas de a vencer e somente a estrela francesa Henri Pélissier podia tentar estar entre ele e a vitória em Roubaix. Pélissier atacou logo no começo, no intuito de destruir a união do conjunto belga, de tal modo, que alcançou uma vantagem de onze minutos í  chegada a Amiens. Mas Pélissier acusou o esforço desenvolvido e soçobrou no alto do monte de Doullens, esgotando as suas energias e terminando com 15 minutos de atraso em Roubaix. Dejonghe era o mais forte dos sobreviventes e alcançou tal avanço, sozinho, que, ao não avistar nenhum espectador nas estradas, teve que perguntar a um transeunte se estava ainda no percurso! Nesse ano, os belgas obtiveram quatro dos primeiros seis lugares.

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O campeão suíço Henri Suter executou uma rara dobradinha quando ganhou o Paris-Roubaix em 1923: uma semana antes, tinha sido o primeiro estrangeiro a ganhar o Tour de Flandres, para consternação dos belgas. Mais novo de seis irmãos, todos ciclistas, Suter era até então um ilustre desconhecido e veio ao Paris-Roubaix determinado em provar que a sua vitória na Flandres não fora obra do acaso. Os franceses Henri e Francis Pélessier (irmãos e ciclistas históricos desta corrida) atacaram-no no monte de Doullens, criando um grupo de oito homens através do plateau de Arras. Mas não conseguiram distanciar-se suficientemente de Suter que "rebocou" autenticamente outros 14 corredores até à frente da corrida. No final, na avenida de Villas (o velódromo de Roubaix fora destruído pelos alemães durante IIª Guerra) Suter provou a sua condição, sendo o mais forte no sprint.

Depois de Suter, sete ciclistas conseguiram repetir o feito de vencer no mesmo ano o Tour de Flandres e o Paris-Roubaix, todos eles belgas: Romain Gijssels, 1932; Gaston Rebry, 1934; Raymond Impanis, 1954; Alfred De Bruyne, 1957; Rik Van Looy, 1962; Roger De Vlaeminck, 1977; Peter Van Petegem, 2003.

«Eu quero realmente vê-lo ganhar o Paris-Roubaix e morrer duas horas mais tarde. Se acontecer eu irei em paz e direi: 'eu fiz do meu filho um campeão. Agora ele já não precisa mais de mim.' » O sr. Emile Masson, o melhor que tinha conseguido era terminar em terceiro do Paris-Roubaix, em 1922. Na edição de 1939, o último antes de a Europa descer uma vez mais no caos da guerra, concretizou o seu desejo quando o seu filho, Emile Masson ganhou a grande clássica francesa. Correndo pela equipa Alcyon, Masson fez a seleção na escalada ao plató de Arras e atacou sozinho os ultimos quilómetros da corrida. Separado do seu carro da equipa, teve um furo, permitindo que 16 corredores o passassem. Reparando o pneu ele mesmo, perseguiu e passou primeiramente um grupo de 14, e depois os dois líderes, Lapebie e Majerus. Um grupo de quatro homens da equipa Mercier fez a perseguição, mas Masson era o homem mais forte e determinado, vencendo a prova com um minuto e meio de avanço.

O primeiro italiano a ganhar o Paris-Roubaix foi Julio Rossi em 1937, mas talvez a primeira vitória italiana verdadeiramente grande foi a de Fausto Coppi em 1950. Lançando um ataque audacioso na zona da alimentação em Arras, Coppi manteve-se afastado dos seus concorrentes, ainda "entretidos" com os seus sacos de comida, obtendo um avanço considerável. Faltava-lhe "apenas" alcançar Maurice Diot e de Gino Sciardis, ainda escapados. Coppi ultrapassou rapidamente Sciardis e juntou-se a Diot, correndo com ele durante algum tempo. No entanto, o director da equipa Mercier deu ordens a Diot para que este não colaborasse na fuga com o ciclista italiano da Bianchi. Nessa altura, "eu fiz a minha opção," disse Coppi: cobrir os 40km finais a solo para ganhar com 2 minutos e 41 de avanço!

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A melhoria das estradas nos anos 60 ameaçou o carácter do Paris-Roubaix, quando as estradas em mau estado foram seladas. Em resposta ao pedido do director da corrida Jacques Goddet, em 1968, para encontrar mais secções "difíceis" alternativas, o lendário Jean Stablinski sugeriu então a floresta de Arenberg. "Eu estou falando do pavé, não de carreiros", disse Goddet. Mas, apesar de alguma relutância, o Arenberg encontrou o seu lugar na história da corrida, de tal forma que foi um sector sempre decisivo desde então. "O Paris-Roubaix não é ganho em Arenberg," disse Stablinski na ocasião da 100.ª edição em 2002, "mas o grupo dos vencedores é ali seleccionado." Na realidade, este sector meio-pavé meio-terra e erva, sempre foi o ponto onde se concentravam mais amantes da modalidade, aglomerando-se ali milhares de pessoas nos seus duríssimos 2.400 metros.

No entanto, na edição do ano passado, o terrível troço de Arenberg não fez parte do traçado, situação que gerou alguma controvérsia entre os mais puristas defensores das características desta clássica, descontentes com o "desfigurar" da corrida sem este mítico troço. Regressa no entanto este ano, para gáudio dos amantes da modalidade.

A maior margem de vitória na história do Paris-Roubaix é a dos 5 minutos e 21 segundos de Roger De Vlaeminck sobre o grande Eddy Merckx em 1970. O mais estreito é o... centímetro de avanço com que Eddy Planckaert cortou a linha de chegada em 1960, devante do canadiano Steve Bauer.

Heróis de Roubaix

No século XX, apenas um ciclista ganhou o Paris-Roubaix quatro vezes: Roger De Vlaeminck, de quem Eddy Merckx disse em 1977 depois de De Vlaeminck ter obtido a sua quarta vitória, "Nunca tinha visto nada assim. Roger deslizou sobre os empedrados como se soubesse exactamente onde estava cada pedra." Com as suas vitórias em 1972, em 1974, em 1975 e em 1977, De Vlaeminck explorou as habilidades apuradas que aperfeiçoara nas corridas belgas de ciclo-cross, durante os invernos, motivado por um desejo ardente de ser o "Eddy Merckx das Clássicas", e era praticamente imbatível quando as condições do piso e do tempo se adaptavam às suas características.

Merckx, o "Canibal", póde ainda assim contar três vitórias em Roubaix, em 1968, em 1970 e em 1973. Todos as três vezes Merckx ganhou no estilo típico - atacando e dominando pela sua combinação incomparável de talento e força de vontade. "Eu tive duas quedas no pavé," disse após a sua vitória de 1968, "mas isso não me abalou. Então jurei a mim mesmo que eu ganharia este Paris-Roubaix."

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O maior protagonista italiano do Paris-Roubaix é indubitávelmente Francesco Moser, um dos dois únicos ciclistas a ganhar três edições consecutivas, a par do francês Octave Lapize, que ganhou entre 1909 e 1911. A primeira vitória de Moser veio em 1978 quando "passeou" a camisola arco-íris de campeão do mundo. O Paris-Roubaix parece predestinada a ser uma 'corrida do arco-íris'. Bernard Hinault e Eddy Merckx também ganharam em Roubaix quando transportavam o símbolo de campeões do mundo. Quando uma corrida testar simplesmente quem é o mais forte e o mais determinado nesse dia, esta camisola parece ser um bom tónico e um acrescento de energia. Ninguém era tão forte quanto Moser em 1978, quando escapou a Roger De Vlaeminck, Jan Raas e Freddy Maertens com 18 quilómteros para o final. "Nada é mais simples do que o Paris-Roubaix: para ganhar você tem que ser o mais forte e andar sempre na frente nos pavés,"disse Moser.

"Nunca me farão voltar atrás sobre o que tenho dito sobre o Paris-Roubaix. É um absurdo enorme!" Serão as palavras de um perdedor amargo, derrotado pelos empedrados de Arenberg?... Não. São palavras de Bernard Hinault após ganhar em 1981. Hinault nunca disfarçou o seu desagrado pelo Paris-Roubaix, chamando-lhe diversas vezes de "ciclo-cross, não uma corrida". Mas ele quis adicioná-la ao menos uma vez ao seu vasto palmarés. Um grande campeão tinha de vencer uma vez o Paris-Roubaix. Pelo menos, no seu tempo era assim.

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As Clássicas eram o alvo de Marc Madiot em 1985, e não poderia ter-se sentido mais feliz quando teve uma possibilidade de alcançar a maior vitória da sua carreira. A vitória em 1981 de Bernard Hinault tinha quebrado um longo jejum de vitórias francesas em Roubaix, depois da já distante vitória de Louison Bobet em 1956. Mas Marc Madiot consolidou o retorno do seu país ao lugar mais alto do pódio em 1985.

Madiot ganhou outra vez em 1991, silenciando os críticos que tinham começado a chamá-lo de acabado. Hoje, Marc Madiot sente-se um homem feliz, sabendo que ganhou por duas vezes a clássicas das clássicas.

O orgulho francês foi restaurado outra vez por dois anos seguidos quando Gilbert Duclos-Lasalle bisou em 1992 e 1993. Há 15 anos que o popular ciclista perseguia a vitória em Roubaix, depois de ter sido segundo em 1980 e em 1983. A sua determinação de ganhar esta prova era tão intensa que construíu uma reputação de um dos homens mais duros desta corrida, e parecia inevitável que a ganharia um dia. Assim aconteceu, a um ciclista que tinha como "missão" da sua vida, inscrever o seu nome na galeria de vencedores da prova.

As duas últimas década assistiram ao domínio do 'Leão da Flandres', Johan Museeuw e Tom Boonen. Museeuw ganhou a corrida três vezes, em 1996, em 2000 e em 2002, além do épico segundo lugar em 2001, como instrumento precioso na vitória do companheiro de equipa Servais Knaven. Tom Boonen tornar-se-ia co-recordista da prova, com quatro triunfos!

No próximo ano, outros corredores partirão decerto determinados a ganhar por uma vez o Paris-Roubaix, "O Inferno do Norte" e, decerto que, o ciclista que superar o "Inferno do Norte", ganhará o seu lugar na lenda, à custa de muito suor, lama, pó e, sobretudo, de muita garra e determinação.



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