O “velho” Bombeiro de 1936 e a Cadete-bombeiro de 2009

Novembro 24th, 2009

jose-canario_irisO “velho” Bombeiro de 1936 e a Cadete-bombeiro de 2009

A foto mostra duas gerações muito diferentes, contudo os cerca de 80 anos que separam estas duas personagens, demonstram e confirmam idêntica entrega à mesma causa comum: servir a comunidade através dos Bombeiros Voluntários, de forma generosa, abnegada e desinteressada.
O senhor que está na foto chama-se José de Oliveira Canário, tem 94 anos de idade e fez parte do primeiro e organizado Corpo Activo, da oficialmente instituída Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos, no longínquo ano de 1936. Ele é o derradeiro elemento desse fantástico grupo que usou uma farda, ostentando ao peito o emblema da Corporação Figueiroense.
A jovem que está ao seu lado é a Íris Sofia Ferreira da Silva Lopes, tem 17 anos e é uma (recente) cadete dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos, na senda de uma vocação familiar, uma vez que o pai, a mãe e o irmão, também se incluem no Corpo Activo desta prestigiada Associação Humanitária.
A foto foi tirada junto à primeira «bomba-de-incêndios» que chegou a Figueiró dos Vinhos durante a década de vinte do século passado. José Canário lembra-se bem dela, porque muitas foram as vezes que a puxou (ou empurrou!), suando e arquejando, com mais cinco camaradas, tantos os que eram necessários para a deslocar “rapidamente” até ao local do incêndio.
Foi com muita emoção que reviu o velho “veiculo”, agarrando-se a ele assim que lhe pôs a vista em cima, com uma lágrima ao canto do olho, revendo através desta peça de museu, as faces dos seus saudosos amigos e camaradas, desfiando nomes e momentos inesquecíveis e que marcaram a sua plena juventude. Não os vemos nesta foto mas foi como se estivessem estado todos ali, abraçados ao “velho” Bombeiro, na habitual algazarra de mais um retrato de grupo.
Muitas são as histórias que conta, muitos são os factos que revela e que confirma, possibilitando-nos contar a sua – a nossa – história colectiva, de um certo tempo e de uma certa relação singular com o nosso passado Figueiroense. Tempos incríveis e que recontarei na «História dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos», que estou a escrever.
Hoje, os Bombeiros Voluntários encontram-se a “anos de luz”da época em que José Canário fez parte da Corporação. Actualmente, o voluntariado nos Bombeiros encontra uma Instituição onde os jovens podem colher oportunidades de formação em várias áreas, tornando-os homens e mulheres multifacetados, no conhecimento e na assimilação de competências técnicas extraordinárias e complexas, ministradas na Corporação, com o objectivo de servirem a comunidade com eficácia e profissionalismo crescentes, enriquecendo o voluntariado que professam e ao qual se devotam. Posso apontar que são ministrados nos Bombeiros Voluntários os seguintes Programas formativos: salvamento e desencarceramento; tripulantes de ambulância de transporte (e que inclui “primeiros-socorros”); incêndios urbanos e industriais; incêndios florestais; conhecimentos técnicos em electricidade, hidráulica e construção civil; busca e salvamento; ventilação táctica; segurança e protecção individual; técnicas de ambulância de socorro.
Nada ganham, a não ser o nosso orgulho e admiração quando os vemos passar, a que acrescento o enorme e infindável respeito que todos lhes devemos, quando eles avançam, de dia ou de noite, para as serras transformadas em braseiros ou nas ambulâncias em emergência para os hospitais. O serviço de saúde que actualmente prestam faz deles uma espécie de “anjos da guarda” da comunidade, e falo com conhecimento de causa, aquando do atropelamento que o meu sogro sofreu recentemente e pela forma pronta como foi assistido numa das ambulâncias, por elementos dos Bombeiros Figueiroenses com formação em socorro pré-hospitalar.
Quanto ao José Canário, este fica agarrado para sempre à memória desta Associação, assim como todos aqueles que briosamente a serviram nas últimas quase oito décadas.
Este artigo serve, sobretudo, para honrar todos aqueles que se dedicam – ou se dedicaram – ao voluntariado de forma desinteressada, altruísta e abnegada, sobretudo os jovens, que generosamente partilham as suas vidas com valores que lhes exigem sacrifícios mas que os enriquecem em carácter e em formação pessoal. Para além disso, e neste caso, os Bombeiros Voluntários nada ganham, no entanto é a eles que tudo devemos.

Uma Resposta a “O “velho” Bombeiro de 1936 e a Cadete-bombeiro de 2009”

  1. Hugo Barreiros diz:

    Boas
    Cada vez que venho aqui fico ainda mais orgulhoso de ser de figueiro por ver o que tivemos e as pessoas que ainda temos e o que fazem ( tu por exemplo ) para dar a conhecer a nossa terra e se estivesse ai se calhar até não iria ligar muito as nossa historias mas a distancia faz muita diferença, é como a luz electrica so quando falta é que nos reparamos na sua importancia.
    Um abraço continua o belissimo trabalho e espero que ai em figueiro alguem de direito te reconheça o trabalho.

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