Imaginária (esculturas) da Igreja de Nossa Senhora do Carmo do Convento dos Carmelitas Descalços de Figueiró dos Vinhos

Julho 18th, 2009

sjoao-nepomuceno_jpeg6A imaginária (esculturas) existente no interior da Igreja do Convento do Carmo é composta por esculturas, maioritariamente em madeira, havendo apenas duas em material diferente: uma em pedra e outra em barro.
A única referência datada em relação a este conjunto de esculturas é a data de 1641, gravada na frontaria da Igreja do Convento, sobre um nicho onde antes se albergava a imagem de Nª Sr.ª do Carmo, feita em pedra e que hoje se resguarda na Casa Paroquial de Figueiró dos Vinhos. As outras imagens carecem desta informação, ou outra que pudesse estreitar o seu momento de criação. A Igreja atravessou três fases distintas durante a sua construção, que se iniciou por volta de 1607, após a conclusão das obras dos dormitórios dos frades e que nesse ano se mudaram para o complexo conventual. O acto litúrgico realizava-se provisoriamente, no espaço que é hoje ocupado pela sacristia, ante-sacristia e lavatório, facto que se prolongou até 1644, ano em que a “Igreja nova” ficou pronta. Nessa data já os retábulos iniciais se encontravam prontos, embora por dourar, lacuna técnica que se prolongaria, pelo menos, até 1751.
A julgar pelos cinco nichos primitivos abertos directamente na parede do altar-mor, poderemos considerar a hipótese, que as cinco esculturas existentes no actual retábulo tenham iniciado o seu percurso existencial a partir desse momento, ou seja, desde o primeiro quartel do século XVII e que em 1644 já estivessem em ligação com a estrutura em talha do retábulo inicial, conjuntamente com a escultura em pedra colocada no nicho exterior, cujo referencial temporal é 1641. Portanto, e com alguma segurança, pode-se concluir que o grosso da produção escultórica que se alberga nesta igreja, pertence ao segundo período maneirista, decorrente entre o último quartel de quinhentos e o segundo quartel de seiscentos.
A colecção de imaginária presente no interior da Igreja divide-se em três grupos: cinco esculturas do altar-mor, duas esculturas dos retábulos colaterais e duas esculturas isoladas do seu contexto litúrgico.
Das cinco esculturas analisadas do retábulo-mor, duas apresentam-se com elementos dissonantes em relação às demais, a julgar pela medições realizadas e pelo apuramento de alguns pormenores, entre os quais, um símbolo não identificado numa delas.
A centralidade temática da maioria destas esculturas traduz o reportório iconográfico (e familiar) da Ordem dos Carmelitas, na sua singularidade identitária e simultaneamente devocional. Conjugadas com a talha dourada, estas esculturas tiveram um papel fundamental na catequização dos fiéis, cuja prática recorria às figuras tridimensionais destes santos, enquadrados em alegorias religiosas, objectivando a tradução e a descodificação de temáticas iconográficas específicas, como o presente caso.
As imagens apresentam um certo rigor plástico, com as figuras de pé, firmes, serenamente hirtas, apresentando uma fisionomia que se queria perfeita, honestidade nos seus rostos, perfeição nos corpos, ornatos nos vestidos, providas com elementos iconográficos destinados a provocar o fascínio e o respeito, perante a massa dos fiéis iletrados, cuja apropriação garantia a sua função didáctica.
A imagem caracteristicamente mais maneirista é, sem dúvida nenhuma, a de São João Nepomuceno e que se situava primitivamente sobre uma pianha no lado esquerdo do nicho do retábulo de S. Sebastião. É em barro policromado, e actualmente encontra-se bastante descolorada. Figura graciosa, em forma serpenteada, insinuando um movimento peculiar em “S”. Mede 0.80m de altura. Está actualmente resguardada e poucas pessoas conhecem esta escultura. Não se sabe como veio parar a esta igreja, sendo a única feita em material diferente das existentes no seu espaço. Tal como S. Sebastião tambem foi um mártir, e isso poderá servir como eventual hipótese de ligação que justificasse a sua presença com esse retábulo.
Infelizmente ainda não consegui descortinar nenhum documento que nomeie os oficiais que estiveram presentes na elaboração destas esculturas, nem o ano exacto, embora se saiba que existiam escultores, marceneiros, imaginários e carpinteiros de alta qualidade em Figueiró dos Vinhos, muitas vezes contratados para laborarem noutras zonas do país, e como tal, deveriam ter à sua responsabilidade oficinas que também funcionavam como “escolas” ligadas a estas técnicas.
A Análise das esculturas que fazem parte da colecção de Imaginária do nosso Convento do Carmo, bem como a sua iconografia, é feita por mim na secção “Património – Docs”, presente neste blogue, acompanhado das respectivas fotos e legendagem das esculturas.
(Bibliografia consultada: S. ANA, feri Belchior de, Chronica de Carmelitas Descalços, Oficina de Henrique Valente de Oliveira, Lisboa, 1657, p.395; MARIA, Feri Joseph de Jesus, Chronica de Carmelitas Descalços, Tomo III, Officina de Bernardo António de Oliveira, Lisboa, 1753, p. 783; GONÇALVES, Carla Alexandra, Os Escultores e a Escultura em Coimbra, Uma Viagem Além do Renascimento, FLUC, Coimbra, 2005.
GONÇALVES, Carla Alexandra, Gaspar Coelho, Um escultor do Maneirismo, Livros Horizonte, Lisboa, 2001; PEREIRA, José Fernandes, Dicionário de Escultura Portuguesa, Caminho, Lisboa 2005; TAVARES, Jorge Campos, Dicionário de Santos, Lello & Irmão Editores, Porto, 1990; SERRÃO, Victor, A Pintura Maneirista em Portugal, Edição do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Ministério da Educação e das Universidades, 1992.)

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