A lição das Vicentinas de Figueiró dos Vinhos

Setembro 30th, 2008

vicentinas_foto1As Conferências Vicentinas são hoje consideradas de Solidariedade Social. Tiveram o seu início nos bairros pobres de Paris, França, em 1833, fruto da acção de meia dúzia de jovens, liderados por Frederico Ozanan, com apenas vinte anos de idade, e cuja dedicação à causa se inspirava na obra e na missão caritativa de S. Vicente de Paulo, isto é, sob o influxo da justiça e da caridade, objectivando aliviar os sofrimentos aos marginalizados, mediante o trabalho coordenado de seus membros. Devido ao seu grande sucesso as Conferências rapidamente difundiram-se por toda a Europa e em 1859 já estavam vastamente implantadas em Portugal. Este movimento tem a constante preocupação em se renovar constantemente, a fim de se adaptar à dinâmica da sociedade e do mundo.

O núcleo feminino de Figueiró dos Vinhos, foi instalado em 17 de Março de 1965, precisamente há 43 anos. Tiveram como Presidentes senhoras de elevado prestigio social, tais como, Maria Alice Faria Tambá, Margarida Borges Albuquerque Calheiros Ferreira, Maria Licínia Campos Costa de Abreu, Maria do Patrocínio Tadeu, Maria Albertina Barata Simões Arinto, Prof. Manuela Pereira, sendo presididas actualmente pela Professora Celeste Dias. Prestam auxílio domiciliário, na doença, a toxicodependentes, etc, tendo tido no ano de 2007, cerca de seis mil Euros em despesas, que se traduziram na ajuda a 320 pessoas carenciadas

Contudo, o presente artigo não tem como objectivo historiar o núcleo das Vicentinas de Figueiró dos Vinhos, embora fosse importante fazê-lo, mas sim para realçar o exemplo que esta Associação deu aos seus conterrâneos no dia 14 de Setembro último, presenteando-os com um espectáculo na Casa da Cultura, que encheu completamente, para ouvir o que as Senhoras da Conferência de S. Vicente Paulo tinham para nos mostrar e dizer. Confesso que fui levado pela curiosidade, para ver como “tudo aquilo ia sair”, mais a mais, num espectáculo elaborado por um grupo sem experiência de palco e que pela primeira vez se apresentava ao público, sujeitando-se ao seu julgamento artístico. Pois bem…saí de lá “de boca aberta” (como se diz na gíria popular) e tambem com a lição bem aprendida.

E quando falo em lição aprendida, não me refiro somente à maneira magistral como contaram a epopeia da sua Associação e do Santo que as patrocina. A lição que trouxe nesse dia, de dentro da Casa da Cultura, é mais profícua e profunda. Para além de mostrarem ambição artística, as Vicentinas foram um estimulo a novas formas de contar histórias, propondo ao público o acolhimento de valores imutáveis e fundamentais e que souberam transmitir de forma renovada, num acto de verdadeira cultura, e sem elitismos culturais, muitas vezes refreadores, e que afastam a comunidade dessa relação sadia, e que se quer assim, simples e pura. Mostraram tambem uma nova fórmula para encorajar a criatividade, uma vez que provaram, que todos podem e devem participar na construção de uma certa identidade cultural, aberta a todos, e que, neste caso, de forma original, deu expressão à vida quotidiana da sua comunidade associativa. Assim, venceram em cerca de 2 horas de representação, um grande desafio, que foi provar aos actores políticos e culturais do nosso Concelho, que são parceiras fundamentais no processo de intervenção local e comunitário. Bem organizadas, coesas, com pleno espírito de entreajuda, este grupo de senhoras foi capaz de pegar num espaço e numa ideia, e que entusiasticamente souberam dinamizar. Sem serem detentoras de fórmulas especiais ou supra naturais, as Vicentinas conseguiram o Teatro, a Música, a Cenografia, os slides e a imagética, numa fórmula em que se assumiram como artistas interventoras e criadoras, resultante da sua motivação, e em coerência com a filosofia que defendem na sua Associação. Estão todas de parabéns, tanto as Senhoras que estiveram em palco, como tambem aquelas que nos bastidores preparam o espectáculo do dia 14 de Setembro de 2008.

A segunda lição que aprendi, é que, na vida comunitária, o mais importante são as pessoas, por mais obras que se ergam em cimento, alcatrão e betão. Em Figueiró dos Vinhos, o potencial humano existe, em todos os escalões e faixas etárias, mas está “imerso”, por valores que muitas vezes esquecem a valência humana, individual e colectiva. Mais importante que as engenharias e as arquitecturas, importa tambem erigir ideias, mudar mentalidades, espevitar dinamismos que frutifiquem, soltar a massa critica (e criativa) da comunidade.

O espectáculo que ofereceram, teve tal aceitação e impacto, que o irão repetir, a pedido de muita gente, em 23 de Novembro próximo.

E é assim, que este Grupo de 29 Senhoras Vicentinas, mantém uma obra voluntariosa há quase meio século em Figueiró dos Vinhos, e isso, só por si, é mais que suficiente para merecerem uma sede, ou um espaço dignificador, não para elas, mas para aqueles a quem servem todos os dias, e que esteja à altura da missão que abraçaram: servir o próximo.

Deixe o seu comentário