Archive for Junho, 2011

Exposição “Figueiró – 100 anos de imagens”

21 Junho 2011

No dia 18 de Junho de 2011 foi inaugurada uma exposição, na Casa da Cultura/Clube Figueiroense, denominada «Figueiró – 100 anos de imagens».
Em cerca de 30 painéis é possível discernir a evolução urbanística de algumas das principais artérias da vila de Figueiró dos Vinhos, bem como a sua dinâmica histórica e memorial, enquanto espaços públicos.
A toponímia de uma localidade reflecte a identidade da sua comunidade, do seu património, da sua cultura, das suas tradições, da sua memória colectiva.
Nela, estão também presentes os valores humanos que dão rosto à sua história, como referências de uma época, de vontades e de acções de cidadania e que os poderes públicos quiseram preservar, como mediadores temporais, de um passado que serve de exemplo mas também de lição a ter em conta no futuro.
Lá estão, a Câmara Municipal e a Praça do Município; a Rua Dr. Manuel Simões Barreiros (que teve outros nomes: Rua Visconde de S. Sebastião e Avenida Nova); A Rua Luis Quaresma Val do Rio; A Rua Major Neutel Abreu; a Rua Teófilo Braga; a Praça Simões de Almeida Sobrinho (antiga Praça do Brasil); a Avenida Padre Diogo Vasconcelos (vulgarmente conhecida por “Ramal”); a Avenida das Escolas (antiga Avenida Salazar); a Rua Dr. José Martinho Simões; a Rua dos Bombeiros Voluntários (antiga Rua do Convento do Carmo); a Torre da Cadeia (ainda com a cadeia); o “Casulo” do Mestre Malhoa; a Casa do Arcipreste (Padre António Inglês); os dois Jardins Municipais; vistas aéreas dos anos 30 (1936) e algumas panorâmicas da vila figueiroense.
É por tudo isto que merece uma visita, um relance atento, uma reflexão descontraída, nesta breve “viagem” ao nosso passado comum, à nossa memória colectiva, enformada na paisagem urbanística, que o tempo e os homens vão alterando e vão afeiçoando no seu caminhar histórico e existencial.

Visita a Conimbriga de 2 turmas da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos

05 Junho 2011


16 de Maio de 2011, Conimbriga.

Há 1700 anos uma cidade fervilhava de intensa actividade. Emanavam dela os sons de um mundo desaparecido.
O sol reflectia-se na oficina do vidreiro; saíam rumores dos tornos do oleiro; saltavam chispas de madeira da banca do carpinteiro; sentia-se o brunido do cinzel do canteiro; reconhecia-se o matraquear do tear do tecelão e o estampido do martelar na oficina do serralheiro. Cheirava a pão fresco por entre o burburinho da plebe. Cheirava a unguentos e a perfumes emanados da loja do boticário.
Na taberna jogava-se aos dados e falava-se alto entre dois copos de “mulsum”; demandava-se o fórum à procura da basílica, do mercado e do tribunal. Nos templos os véus cobriam as cabeças, quando se suplicava aos deuses. Na praça pública, perante a estátua do senhor de Roma, cultuava-se um império, que durou 1000 anos!
A cidade resplandeceu, orgulhosa do seu comércio e da sua indústria. Nas termas, entre a sauna e a piscina, discutia-se politica, filosofia e religião. Ia-se ao anfiteatro aplaudir os gladiadores, ou emocionar-se perante os actores da tragédia e da comédia.
Nas ruas circulavam gentes apressadas: o médico com os seus bisturis; o magistrado com a sua toga de faixa púrpura; a matrona elegante com a “stolla” vestida; o escravo apressado que seguia o seu senhor; o operário com a sua túnica; o soldado de capacete reluzente; o centurião com a capa vermelha; as crianças que jogavam ao pião; a noiva, com grinaldas de flores na cabeça e de véu alaranjado.
A noite enchia a cidade com a luz bruxuleante das lucernas, das lanternas e dos candelabros. O lume, símbolo do ser vivo, que não devia faltar em nenhuma casa e que devia apagar-se por si, já madrugada alta.
Como foi que se construiu um império? Como funcionava uma cidade romana? Como nasce, cresce e morre uma cidade? Como era o quotidiano destas gentes que existiram há cerca de 2000 anos? Como viviam, como nasciam, como cresciam, como sonhavam, como morriam?
Foi tudo isto que tentei explicar no dia 16 de Maio em Conímbriga, perante duas turmas da Universidade Sénior de Figueiró dos Vinhos, iniciativa que partiu das disciplinas de Relações Interculturais (Helena Teixeira) e História Local e Regional (TóZé Silva).
A visita de estudo abrangeu a totalidade das ruínas da cidade, tendo finalizado no museu monográfico de Conímbriga, numa jornada que se quis de conhecimento e de reflexão mas também recheada de entusiasmo, muito convívio e boa disposição, emoldurada por um pic-nic, feito no parque de merendas do museu, que enriqueceu e reforçou o espírito deste grupo, para iniciativas futuras.
(Já antes, em Março, o mesmo grupo, composto pelas mesmas duas turmas, havia realizado outra visita de estudo, num périplo pelas principais referências patrimoniais da vila figueiroense, com o habitual pic-nic pelo meio, realizado no parque de merendas da Abrunheira e que finalizou num potencial local arqueológico, nas imediações da aldeia do xisto de Casal de S. Simão).
Da lição de Conímbriga, cidade romana que teve o seu apogeu por volta do ano 100 d.C., importa reter, que mais importante que as praças, as casas, os jardins, os templos, as lojas, os fóruns, os bairros e as avenidas das cidades, é o espírito de cidadania que as engrandece! São as pessoas que nelas habitam e com elas interagem, que lhes emprestam prestígio, valor e identidade.
São as convicções, forjadas em ideais comuns, que forjam os impérios e as civilizações, que criam e sustentam as cidades. Quando a sua essência se esgota e esvazia de vitalidade, também se esvaziam as cidades e se arruínam os seus esplendores.
(Foto: António Leitão)