Archive for Maio, 2009

Os outros símbolos e patrimónios do nosso Concelho

22 Maio 2009

zezere_jpegQuais são os outros símbolos do nosso concelho?

Se tivermos que escolher ou reflectir sobre os símbolos que igualmente caracterizam o nosso concelho, as suas gentes e tudo aquilo que congregam e veiculam nos seus usos, costumes e tradições, que simbologia imaginamos ou idealizamos para nos identificar, tida como reprodução das nossas características culturais, etnográficas, patrimoniais, etc, permissiva a uma leitura da nossa sociologia, da nossa produção humana e social, vivificada dentro do nosso território concelhio?
Os símbolos são veículos poderosos de comunicação, tidos como instrumentos de difusão de cultura e etnografia das comunidades, cuja imagética legitima e enfatiza automaticamente uma dada vivência concreta, numa dada mensagem codificada baseada na identificação simbólica dos valores comunitários genuínos. Os símbolos contam uma história e exprimem crenças acerca das gentes de um determinado espaço território, de uma determinada região, codificando nos seus símbolos as suas características mais comuns. Essa imagética simbólica é o veículo que anuncia o grupo fora do seu território, prenunciando nos seus elementos a sua identidade, assumindo-se como embaixador da sua singularidade e genuinidade, sobretudo quando os simbolos se estreitam e entrecruzam com património que indelevelmente ostentam.

Que símbolos e patrimónios possuímos e que poderão identificar os figueiroenses:

Em relação ao seu património natural e paisagístico: poderá ser o plátano, o pinheiro, a figueira, a acácia, a oliveira, o castanheiro, o serpenteado da Ribeira de Alge, o estuário da Foz de Alge, as Fragas de S. Simão, o Cabeço do Peão, as serranias envolventes, os nossos jardins floridos, a Quinta dos Paivas, a Quinta do Casal S. João, a Quinta das Lameiras?!

Em relação ao seu património arquitectónico: poderá ser o Casulo de Malhoa, a vivenda do Padre António Inglês, a vivenda de Simões de Almeida, o casario do nosso Centro Histórico, as antigas casas rurais das nossas aldeias (por exemplo, a Aldeia do Xisto do Casal de S. Simão), a Biblioteca Municipal, a Casa da Cultura – Clube Figueiroense, o Hotel Terrabela, o edifício do “Solar”?!

Em relação ao seu património monumental: poderá ser a Igreja Matriz, o Convento do Carmo, a Torre Comarcã, a simples capela no cimo da serra (por exemplo a Ermida de S. Simão, de S. Neutel ou do Cabeço do Peão), a Fonte das Freiras?!

Em relação ao seu património histórico-arqueológico: poderiam ser as ruínas das Ferrarias da Foz de Alge, os troços de antigas estradas romanas, as portas quinhentistas da vila?!

Em relação ao seu património artístico e cultural: poderemos falar em José Malhoa, Simões de Almeida, Henrique Pinto, Beatriz Lacerda?! Poderiam ser também os altares em talha dourada das nossas igrejas e capelas ou as esculturas e pinturas que pontilham esses espaços, sem esquecer os magnificos painéis de azulejos do séc. XVII e XVIII?!

Em relação ao seu património etnográfico: poderá ser o cacho de uvas (evocador das vindimas e do vinho da região), a matança do porco, o antigo moinho de água ou a espiga de milho (símbolos das “terras de pão” do nosso concelho e evocador de antigas tradições, como as “descamisadas”, etc), a nossa gastronomia mais típica (o pão-de-ló, as castanhas doces, as broinhas de casamento, o peixe do rio, o mel serrano, a doçaria conventual), os antigos cantares das gentes do campo, o laínte, os barcos tradicionais do Rio Zêzere?!

Existirão, certamente, mais elementos e que caberão nesta hipotética lista, com a mesma importância dos que agora foram enunciados.
Urge recolher e inventariar todo o património concelhio, recordar e recuperar as suas significâncias, como elementos identificadores da nossa identidade e memória figueiroense. Atribuir-lhe um fio condutor, interligá-lo, redescobrir-lhe os seus fundamentos, os seus segredos e mensagens, porque são referências da nossa herança comum e para além disso, porque é também das suas “narrativas” que bebe a nossa história comum.

Esculturas do Convento do Carmo

14 Maio 2009

convento_carmo_esculturas1Legenda das Fotos:

1- Santo Alberto: nicho esquerdo do piso superior do Retábulo – mor: o livro aberto deitado representa o seu grau de doutor da Igreja, simboliza o conhecimento da ciência que Deus emprestara aos homens. Escreveu a “Regra da Vida” para os Carmelitas que viviam no Monte Carmelo, na Palestina, conhecida como a “Regra de Santo Alberto de Jerusalém”. Escultura de transição para o Barroco. (1.20m de altura)
2- Santo Elias: nicho direito do piso superior do Retábulo – mor: o guerreiro que se tornou eremita no Monte Carmelo e que aqui se apresenta com o hábito de monge carmelita. Foi o precursor da Ordem do Carmo. Na mão esquerda exibe um pequeno templo. (cerca de 1.00m de altura).
3- São João da Cruz: nicho direito do piso inferior do Retábulo – mor: fundou a Ordem dos Carmelitas masculinos. Um dos teorizadores da Igreja, com uma vasta obra literária que influenciou muitos autores espirituais. O livro meio aberto que tem na mão direita significa o contraste entre a matéria fecundada, com os mistérios e os conhecimentos ainda por estudar, isto é, a Biblia, em cuja leitura e meditação reside a lectio divina e o conhecimento de Deus. Escultura de transição para o Barroco. (1.20m de altura).
4- Santa Teresa de Jesus: nicho esquerdo do piso inferior do Retábulo – Mor: foi a reformadora da Ordem do Carmelo. Ostenta uma atitude pedagógica, com um livro aberto na mão esquerda, que simboliza uma vida dedicada às suas fundações, que visitava constantemente, inspirando-as através dos seus ensinamentos. Parece dirigir-se aos fiéis de forma magestosa e serena. (1.20m de altura)
5- Nossa Senhora do Carmo com o Menino: centro do Retábulo – Mor (tendo no braço direito um escapulário do Carmo): Nª Srª do Carmo é um titulo consagrado a Nossa Senhora, aqui tambem conhecida por Nª Srª do Monte Carmelo. As esculturas apresentam traços maneiristas, embora sejam consideradas do período barroco. (1.30m de altura, exceptuando a coroa).
6- Imagem da Capela de Francisca Evangelha;
7- Capela de S. José (da Esq. para a Dª): S. Joaquim, S. José e Santa Ana;
8- S. Sebastião: retábulo esquerdo do Transepto: figura máscula, de grossas pernas de guerreiro e com um rosto que exprime algum sofrimento contido. (0.90m de altura)
9- Nossa Senhora da Conceição: retábulo direito do Transepto. Rosto que produz doçura e interiorização de sentimentos. A figura está em posição orante, de rosto voltado para o céu. Ricamente vestida. A imagem assenta sobre um globo dourado, donde sobressai uma meia-lua da mesma cor e sobre o qual esmaga uma serpente com o pé direito (os males do mundo), simbolos da sua iconografia. Escultura do barroco pleno. (1.07m de altura).

Donos da memória: 0 /// Biblioteca Municipal: 2

07 Maio 2009

Os donos da memória… tesouro2
Há quem pense ser dono da nossa memória colectiva, pela quantidade de elementos patrimoniais que detêm “à sua guarda”. Coleccionadores particulares que têm de tudo um pouco: livros, jornais, correspondência, postais, fotografias, pintura, escultura, azulejaria, arte sacra e por aí fora, formando pequenas galerias arquivísticas e musealizadas e que na maior parte não passam de meras “galerias de curiosidades”, que utilizam para seu usufruto e que raramente cedem a quem quer que seja, independentemente do objectivo, muitas vezes nobre, que acompanha o pedido de empréstimo, com intuitos académicos, de investigação e de consulta documental. Em suma, é quase sempre difícil conseguir alguma coisa de alguns coleccionadores privados.
Não questiono os seus direitos sobre o património que detêm junto de si, nem sequer contesto o direito que têm em cedê-lo ou não, apesar de saberem que, nalguns casos, a “cedência” passaria apenas por uma simples consulta para fins meritoriamente académicos. Pois muitos deles nem isso permitem.foto_cab-peao
O que eu questiono é o despeito e a soberba com que “se agarram” a esses objectos, como se todo o património que reúnem lá em casa lhes conferisse um estatuto especial, acima do natural interesse histórico e colectivo. São meros donos de objectos (valiosos), a que não dão uso nem utilidade, a não ser para o seu ego, que “enriquece” em vaidade para consumo próprio. Todavia, têm que ter consciência de duas coisas: que não se podem julgar proprietários de pedaços da história e que o seu método para a preservar, mantém prisioneiros valiosos testemunhos, que dela emanam, entre as paredes dos seus escritórios privados.
Felizmente, que as novas tecnologias, aliadas à competência de algumas instituições públicas, vão esvaziando pouco a pouco a “soberba”, com que alguns coleccionadores particulares orientam, gerem e administram as colecções que detêm. carnaval73
Aponto o grande exemplo da Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos, que tem levado a cabo um trabalho meritório de investigação, pesquisa, compilação e divulgação de algum Património Figueiroense, colocando-o livremente à disposição de todos e sem restrições de espécie alguma. Refiro-me à belíssima colecção que reúne TODA a Imprensa escrita que se publicou no concelho de Figueiró dos Vinhos, desde finais do século XIX até à actualidade, num total de 33 títulos Jornalísticos, que representam centenas de números editados e que totalizam 22 000 páginas digitalizadas. Eu próprio tenho-me valido desse espólio documental (fabuloso) tanto para os meus trabalhos académicos e pessoais, como para saciar simplesmente a sede de recordar coisas do nosso passado colectivo. Isto é, há um retorno concreto e recíproco, entre uma Instituição Pública (neste caso a Biblioteca Municipal de Figueiró dos Vinhos) e os seus utentes, num intercâmbio que capitaliza o serviço que essa Instituição presta, servindo a generalidade da comunidade de forma altruísta, obedecendo ao compromisso de divulgar (ao máximo) o acesso à leitura e à cultura e, simultaneamente, contribuir generosamente para os estudos da história local e regional, em linha com um projecto ainda mais ambicioso: construir um imprescindível e necessário «Fundo Local», que reúna um grande espólio documental, de tipologia diversificada e que sirva estudantes, investigadores e os utentes em geral.foto_mercado
Outra iniciativa de louvar por parte da Biblioteca Municipal, é o enorme espólio fotográfico que está neste momento a reunir e a compilar, com o apoio de entidades públicas e privadas e, principalmente, de muitos particulares, que não hesitando em associar-se de forma generosa a esta iniciativa, colocaram à disposição da Biblioteca Municipal centenas de fotos, que cobrem todo o século XX figueiroense e cuja digitalização tem enriquecido, constante e diariamente, um “banco” valioso de imagens, que ilustram memórias e identidades da nossa história concelhia e que podem ser consultadas na secção (designada «Figueiró em Imagens») da página web da Biblioteca e cujo link associei a este blogue.

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Concluindo, há uma grande diferença de atitudes, entre aqueles que persistem em reunir, quase só para si, todo um património que é do interesse colectivo, e a acção da Biblioteca Municipal: os primeiros, apesar dos seus esforços, continuam a consentir que grande parte do nosso passado colectivo continue “amnésico” ou “anónimo”, porque só eles continuam a ser detentores dos seus “segredos”, a segunda, tem a sábia ousadia de arrancar esse passado das entranhas que o mantinham em coma, esquecido e subestimado, trazendo-o para um espaço comum e público, até junto da nossa memória colectiva, permitindo-nos recordar aquilo que fomos, para entender aquilo que somos, como referência ligadora e dinâmica, em direcção ao futuro.regeneracao
Quando temos uma Biblioteca Municipal, com a envergadura da de Figueiró dos Vinhos, há sempre a opção de, prioritariamente, concorrermos para a sua fortuna.

uniao-figueiroense
Talvez tenha chegado a hora de começarmos a pensar conjuntamente e menos individualmente.

Livros da Biblioteca do Convento do Carmo

04 Maio 2009

brasao2Soube há pouco tempo, em conversa com um antiquário, que recentemente foram vendidos dezenas de livros e que pertenceram à Biblioteca do Colégio do Carmo de Figueiró dos Vinhos (que chegou a possuir, pelo menos, cerca de 1500 livros). Os livros que foram agora vendidos, tinham inclusivamente a “chancela” do Convento na contra-capa e foram “despachados” ao desbarato ( uns foram vendidos a 10,00 Euros , outros a 15,00, etc).  O alfarrabista onde eles foram parar, concerteza que desconhecia em absoluto o valor que eles tinham para nós, figueiroenses. Infelizmente, o antiquário referido, chegou tarde de mais, para poder salvar alguma coisa de vulto, conseguindo apenas adquirir 2 desses livros.

A história do  circuito que esses livros, hipotéticamente fizeram,…nem vale a pena contá-la, indignado por saber, que o nosso património comum continua a ser alvo de transacções “clandestinas”, sem dó nem piedade, como se àqueles que dele têm conhecimento, não valesse a pena resgatá-lo, como se não tivéssemos orgulho do nosso passado, onde se enraizam as nossas memórias, passado esse, que em muitos aspectos, foi bem melhor que a “plástica” do presente.

Usos, tradições, costumes e património do nosso concelho

04 Maio 2009

no-pinh_j1Divulgar os usos, os costumes, as tradições, enfim, todo o nosso património material e imaterial do concelho de Figueiró dos Vinhos e promover tertúlias “divertidas” para debater os seus aspectos e contornos, a sua existência e conservação, a sua importancia enquanto documentos testemunhais, que complementarizam a nossa história e passado comuns. Reflectir, igualmente, no planeamento de estratégias que permitam a sua sustentabilidade e rentabilização, englobando-o em programas turisticos-culturais, atraindo até ele todos os agentes do concelho, num pocesso dinamico conjunto e estruturante, objectivando a consciencialização do mesmo, como matéria herdada, a preservar e a defender, reencontrando-o, explicando-o, enriquecendo a sua especificidade, revalorizando e reescrevendo a sua mensagem, acordar o seu diálogo com todos os figueiroenses, que há décadas perguntam: ONDE ESTÁ O NOSSO PATRIMÓNIO ARTISTICO, CULTURAL, HISTÓRICO, ARQUEOLÓGICO E ETNOGRÁFICO??? ONDE PÁRA ELE??? QUEREMOS SABER DELE, PORQUE É NOSSO!!!

(Foto: José Malhoa, Dr. Vasconcelos, Arqº Reynaud, Simões d’Almeida (Tio) e Padre Diogo de Vasconcelos)

Oficina da memória

02 Maio 2009

merendaBenvindos a um espaço onde se forjam as memórias antigas e esquecidas.
Recordar é um acto eminentemente individual mas tem um carácter relacional com a memória enquanto fenómeno eminentemente colectivo, enquanto função de partilha de um passado comum que objectiva a promoção de laços de filiação entre os membros de uma comunidade, com base no seu passado colectivo. A comunidade tende a oficializar uma memória colectiva deliberadamente desenhada para simbolizar a unidade e coesão do seu grupo, garantindo a sua legitimidade e a sustentação do seu consenso social.
Deste modo, entendo que a memória é simultaneamente permanente e mutável. Permanente porque não podemos alterar os factos do passado, mutável porque adequamos os factos passados consoante as necessidades e as ansiedades do presente, o que leva a concluir, que cada presente constrói a sua história. Deste modo, a memória torna-se instrumental e influenciada por objectivos do presente, tendentes a revestir o passado com versões a serem utilizadas e assumidas pelos poderes instituídos, que instrumentalizam a memória através dos meios de comunicação, do sistema de ensino, dos monumentos, dos museus, das bibliotecas e de celebrações-comemorações ritualizadas.
Entre o que se recorda e o que se esquece, entre o que se narra e o que se inconfessa, existirão sempre memórias marginalizadas, dependentes das conjunturas e das circunstancias com que emergem certas recordações, bem como a ênfase com que se evocam certos contornos e pormenores. Entre a permanente interacção entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido, nas histórias individuais e colectivas, existirão sempre zonas de sombra, silêncios e memórias dissidentes. O silêncio, por vezes longo, de certas memórias e recordações, não conduz ao esquecimento, mas resiste, apesar da doutrinação ideológica e conjuntural que as confina ao exílio da vontade de recordar. Isto é, o esquecimento definitivo e o inconsciente recalcado e reprimido não são estanques mas permanecem em permanente movimento, transmitindo-se oralmente e e de geração em geração, permanecendo latentes e vivos, negociando as recordações com o tempo, que as enquadrará social e politicamente em tempo oportuno.
Compete-nos a nós, utilizar a memória colectiva, como um corredor onde desenvolvemos uma viagem permanente, migrando constantemente entre os dois pólos do mesmo, o passado e o presente, como justo equilíbrio de referência, identificação e coerência, com aquilo que somos e onde nos forjamos continuamente.

Identidades esquecidas

02 Maio 2009

medalha_cruz_guerra2Quem somos nós? De que “massa” somos feitos? Que elementos contribuiram para formar a nossa identidade, quiçá, figueiroense?